quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Breve história sobre o Sikhismo - 2a Parte





Guru Angad (1504-1552), o segundo Guru viveu em Khadûr, hoje no distrito de Amristar, que se tornou naquela época um novo centro da fé Sikh. Como seu predecessor, ensinava às pessoas as virtudes da devoção e da dedicação ao serviço aos outros. Tratava dos doentes e dedicava suas tardes ao ensino das crianças, iniciando-as no sistema de escrita gurmukhî.
Guru Amar Dâs (1479-1574) se fixou em Goindvâl criando um sistema eclesiástico bem estruturado e estabeleceu 22 nanjîs, (dioceses ou distritos de pregação), algumas governadas por mulheres.Deu especial importância ao combate das injustiças sociais às quais estavam submetidas as mulheres de seu tempo, considerando esta luta como uma tarefa urgente. Guru Ram Das (1534-1581), Nanak IV, estabeleceu um novo centro Sikh o qual ultrapassou todos os demais pela sua importância. Em 1577 ele comprou na cidade de Tuñg, a 40Km, ao noroeste de Goindvâl, uma grande extensão de terra na qual construiu sua morada. Esta foi a origem de Amritsar que se tornou a capital do Sikhismo e que, como o tempo provou estava prometida para alcançar enorme desenvolvimento em todos os setores.
Com Guru Arjun (1563-1606) o quinto Guru, o Sikhismo foi ainda mais consolidado. Seus ideais religiosos e sociais foram colocados em prática de forma mais profunda. Em 1589 mandou construir um templo no meio de um lago em Amritsar – o Santo Harimandir - Templo Dourado como é conhecido atualmente. Fundou duas outras cidades – Tarn Târan e Kartârpur – consideradas sagradas pelos Sikhs. Outra tarefa levada a cabo por Guru Arjun foi a codificação das composições literárias dos Gurus em uma versão oficial, preservando-a assim para a prosperidade. O Granth Sâhib (Mestre Livro) foi instalado em 16 de Agosto de 1604 no centro do santuário principal de Harimandir em Amritsar. Em 30 de maio de 1606, morreu torturado por ordem do Imperador Jahangir sendo isto, fator decisivo para a militarização do Sikhismo.
Guru Hargobind (1595-1644), o sexto Guru, filho de Guru Arjun, compareceu à cerimônia de sua investidura com um equipamento de guerreiro. Carregava duas espadas: uma simbolizando sua investidura temporal e outra sua investidura espiritual, deixando claro, de uma vez por todas que, para o Sikhismo, as coisas terrestres e não terrestres não são separadas. Vendo que os meios pacíficos não eram suficientes para eliminar as injustiças e a tirania, ele legalizou o uso da espada. Todavia, embora seu estilo marcial e dos conflitos armados dos quais participou, levou uma vida pessoal de hábitos simples, como o de seus predecessores e cumpriu seus deveres religiosos com a mesma devoção e dedicação.
Guru Har Râi (1630-1661), Nanak VII, fez viagens por todo Punjab mantendo um programa missionário vigoroso. Seu filho Guru Har Krishan (1656-1664), Nanak VIII, desde a idade de 6 anos era um curador.Aos 8 anos de idade durante uma epidemia de varíola em Dehli curou almas doentes sacrificando-se a si mesmo para que outros pudessem viver.
Guru Tegh Bahâdur (1621-1675), o nono guru, usava uma cruz. Deu sua vida para defender o direito de seu povo em manter sua fé. Deu um novo estímulo para a história do Sikhismo. Seu filho, Guru Gobind Singh (1666-1708) o último dos gurus Sikhs, terminou com a linhagem dos Gurus pessoais, deixando como seu sucessor o Guru Granth. Criou a ordem marcial Khalsa ou “organização da pureza”. Sua fundação se deu em situação dramática, em 30 de maio de 1699, nas colinas de Sivâliks. Os cincos Sikhs que ofereceram sua vida atendendo ao chamado do Guru Gobind Singh, foram iniciados como os cinco primeiros membros da ordem e considerados os eleitos de Deus. Eles formaram o núcleo inicial da ordem criada pelo Guru Gobind Singh a qual se caracterizava por ser uma associação sem casta, guerreira e de total abnegação a causa Sikh. Cada um deles recebeu o cognome de Singh, que significa leão, e deveriam trazer sempre consigo os cinco emblemas da Khalsa:
Kesh -cabelos não cortados,
Kanga - pente de madeira preso nos cabelos em sinal de renúncia ao mundo
Kara - bracelete de aço,
Kachera - roupa íntima de algodão, símbolo da pureza e castidade.
Kirpan- punhal.

Este é um símbolo da fé Sikh, também chamado de Kanda. É formado por uma espada central que simboliza a crença em um Deus único; um círculo central simbolizando a unidade e a aura daqueles que a usam e duas espadas laterais simbolizando a proteção ao temporal e ao espiritual.
Quando estamos enfraquecidos em nosso poder, nós chamamos o Adi Shakti – o Poder Primordial. Com esta saudação nós adquirimos os quatro aspectos de Shakti - o Primordial, o Total, o Criativo e a Reserva de Shakti que nos abre o poder.
Bhakti (devoção) cria Shakti e Shakti pode criar Bhakti. Estão intimamente ligados.

BIBLIOGRAFIA—Harbans Siingh e Delahoutre Michel.O Sikhismo Antologia da Poesia Religiosa Sikh. Centro de História das Religiões, Universidade Católica de Louvain, Louvain-La-Neuve,1985

domingo, 4 de outubro de 2009

Breve história sobre o Sikhismo - 1a Parte




A palavra Sikh provem do sânscrito shishya que significa discípulo ou aluno. A língua páli, língua dos escritos budistas, possui o termo Sekha. Mas foi a forma Sikh ,na língua Penjab, que acabou sendo usada para designar os discípulos de Guru Nanak e de seus nove sucessores.
O Sikhismo nasceu no Penjab, noroeste da Índia, região cortada por cinco rios de onde originou seu nome, PANJ (cinco) AB (rio).
O fundador da fé Sikh, Guru Nanak, nasceu em 1469. Seu pai, Kalyan Chand (Kalú), pertencia a um clã de kshatrias (guerreiros) e vivia numa pequena cidade a 60 km ao sudoeste de Lahore.
O homem, para Guru Nanak, é a criação de Deus e participa de Sua própria Luz. Uma vez que o homem é da linhagem divina, ele é essencialmente bom e não mau.
O mal, segundo o Sikhismo, não é algo inerente à condição humana. Ele provém da ignorância do homem sobre sua origem divina e de seu haumai (1), causa de todos os sofrimentos; o que o separa de sua Fonte Original.
Ele chamava o Ser Supremo Único e sem forma simplesmente de Um (Ek Ong Kar), sem segundo, que é eterno, infinito e que penetra em tudo. Ele não é limitado pelo tempo. Ele existe por si mesmo desde sempre e Ele é a fonte do Amor e da Graça.
Os sikhs buscam a união com Deus através da leitura do Guru Granth Sahib e através de serviços prestados à comunidade.
1. haumai- o ego e a preocupação consigo mesmo que acaba levando o indivíduo à cegueira espiritual e ao desconhecimento.

Guru Nanak não ensinava sua própria sabedoria, ele pregava aquilo que segundo ele dizia, o Senhor lhe havia ensinado. Em sua bani ou Palavra inspirada, ele falava enquanto testemunha de uma Revelação. Em um de seus versos diz: “Da forma como o Senhor envia a Palavra eu a transmito”. Ou ainda, “Eu digo somente aquilo que Tu me fazes dizer”. É desta forma que Guru Nanak considerava ter cumprido a tarefa que Deus lhe havia confiado. No fim de suas viagens de pregação foi morar em uma pequena vila fundada por ele mesmo, na margem do rio Ravî. Neste local formou-se uma comunidade de discípulos, uma associação de homens engajados em suas ocupações diárias. O elemento fundamental desta reestruturação da vida religiosa e social era o espírito seva, ou o serviço voluntário. Ações concretas de caridade e assistência mútua eram realizadas voluntariamente com zelo e engajamento pessoal e consideradas como um dever piedoso por todos os membros. Guru Nanak cultivava suas próprias terras para garantir a subsistência de si mesmo e de sua família. Esta sociedade que começava a se estabelecer foi precursora do Sikhismo histórico e recebeu de Guru Nanak toda sua inspiração. Foi ele quem determinou suas principais verdades e doutrinas. Sob sua inspiração o Sikhismo adquiriu certos traços institucionais característicos como: o sangat, ou seja, a associação santa em comunidade, o dharmasâla (gudvârâ) e o Iangar (refeitório comunitário). Esta sociedade era depositária das palavras do Guru, através das banis ou Palavras reveladas. Tinha um sistema próprio de escrita, o gurmukhî, (o que sai da boca do Guru), no qual as banis eram deixadas para a posteridade e um estilo próprio para cantá-las.Os membros desta comunidade eram homens simples – agricultores, artesões, mercadores que renunciaram seus antigos laços e aceitaram Guru Nanak como seu Mestre.
Todos rejeitavam o sistema de castas, o culto das imagens e o ritualismo vazio. Apoiavam-se em uma fé ardente no Divino, em práticas morais verdadeiras e em uma aceitação plena da vida. Seus ideais de fraternidade e de seva e suas preocupações quotidianas foram os elementos determinantes da evolução posterior do Sikhismo. A nomeação de um sucessor foi fundamental para a continuação de ensinamentos de Guru Nanak. Seu sucessor foi escolhido entre seus discípulos. Seu nome era Lahinâ, mas Guru Nanak o chamava de Angad, ou seja, um membro de seu próprio corpo, uma parte de si mesmo. Angad se tornou Nanak II. Este processo se repetiu até os tempos do décimo Guru, Guru Gobind Singh. A Luz passava de um corpo para outro (cadeia dourada). A imagem, segundo a tradição Sikh, descreve este processo como sendo o de uma chama que se ascende a partir da outra. O Sikhismo reconhece, desta forma, os dez Gurus que foram um em espírito, embora diferentes no corpo. Eles participaram da mesma luz e revelaram a mesma verdade. Até hoje eles são assim considerados pelos seus fiéis. No sistema Sikh a palavra Guru só é utilizada para os dez profetas espirituais – de Guru Nanak ao Guru Gobind Singh –
Atualmente o cargo de Guru é ocupado pelo Guru Granth – o Livro Sagrado – que foi elevado ao cargo por Guru Gobind Singh, antes de sua morte em 1708. Para os Sikhs o Guru é o Mestre Santo, o Profeta sob autoridade direta de Deus e somente os dez Gurus que se sucederam e o Guru Granth merecem este título.

Fim da 1a parte.